quarta-feira, 18 de maio de 2011

O homem que chorava demais

Havia um homem que chorava por tudo. Quando contemplava um alvorecer, chorava. Se via um passarinho caído do ninho, chorava. As lágrimas subiam do seu coração e molhavam o seu rosto. As belezas e as tristezas da vida o tocavam profundamente e não conseguia ficar indiferente a nada. Enfim: chorava com extrema facilidade. Obviamente os amigos zombavam e riam dele. Certo dia, espalhou-se a notícia que a filha do rei estava gravemente doente. Nenhum médico estava conseguindo curá-la da tristeza na qual se encontrava e que a estava consumindo, dia após dia. O homem que chorava demais foi – como muitos outros – tentar confortar a criança. Quando chegou perto da cabeceira dela o seu coração apertou-se pelo sofrimento e, enquanto se esforçava para dizer algumas palavras, as lágrimas começaram a jorrar dos seus olhos. A criança o olhou com curiosidade e depois disse:
- Nunca tinha visto um homem com tanto orvalho sobre os olhos!
O homem comoveu-se, ainda mais, e não conseguiu segurar as lágrimas. Entendeu, porém, que as crianças não gostam dos adultos que choram, mas daqueles que sabem chorar. Daquele dia em diante, ele não saiu mais pelo mundo chorando como uma torneira; aprendeu a segurar as lágrimas na beira dos seus olhos. Verdade que algumas vezes, por ter tanto orvalho represado, não enxergava mais nada e caía em algum buraco, no entanto tinha aprendido que a pessoa adulta deve segurar as lágrimas. Não porque é feio chorar, mas porque cabe a ela enxugar as lágrimas dos outros.  
Saber consolar é um dom de Deus. Quase nunca acontece com palavras; na maioria das vezes o consolo vem com a nossa presença. Um abraço, um ombro amigo, um silêncio que fala. Por isso não consigo imaginar Jesus, o Bom Pastor, ralhando ou passando carão na ovelha desgarrada. Acredito mais no carinho e no esforço dele, ao carregá-la de volta para redil.
Quando escuto Jesus dizer que ele veio para que todos “tenham vida e a tenham em abundância”, só consigo imaginar uma atitude de conforto e de encorajamento. A vida e a vontade de viver sempre passam por encontros amorosos. Deveria ser assim, do início até o fim. A criança já escuta a voz da mãe antes de nascer. Com certeza percebe se ela está alegre ou triste. Ainda nem pode ver o rosto da mãe e a criança já sabe se será acolhida, amada. O mesmo acontece com a rejeição. Muitas vezes, também experimentamos isso ao longo da vida. Um sorriso abre o nosso coração e nos aproxima do outro. Uma palavra dura ou um rosto fechado nos afastam. É por isso que Jesus, o Bom Pastor, insiste em dizer que ele chama as ovelhas e que estas conhecem a sua voz. A voz dele é bem conhecida, familiar, produz encontro e intimidade; gera confiança e consolação. As ovelhas não reconhecem a voz dos estranhos, fogem e se escondem deles.
A imagem das ovelhas pode parecer melosa para o homem moderno cheio de auto-suficiência, porém pode ser entendida como carregada de afeto e atenção para quem reconhece as suas carências. Quem se sente tão seguro a ponto de poder dispensar uma palavra amiga? Quem nunca desabafou com alguém sem medo de ser criticado e julgado? Então todos nós temos muito para aprender com o Bom Pastor, porque todos somos, ao mesmo tempo, ovelhas e pastores. Precisamos ser consolados, mas devemos também saber consolar. Choramos, mas também podemos enxugar lágrimas. O cristão “adulto” reconhece as suas fragilidades e se deixa carregar pelo Bom Pastor, porque, ao mesmo tempo, deveria segurar a mão daqueles, que ele, por sua vez, anima e conforta ao contrário do ladrão que, diz Jesus, vem para roubar, matar e destruir. Sabemos existirem adultos que roubam a inocência das crianças, destroem a confiança dos pobres, enganam a juventude: matam a beleza e a alegria da vida. Parecem oferecer felicidade, mas, com as suas drogas, fazem somente chorar.
Rezar hoje pelas vocações sacerdotais, religiosas e missionárias, não significa pedir ao Pai somente mais padres e freiras, significa, sobretudo, pedir pessoas capazes de carregar outros nos ombros, de enxugar lágrimas, de dar mais vida. Tudo isso feito com simplicidade, escondimento, oração e sacrifício. Repetindo sempre os gestos de Jesus, na Eucaristia e no lava-pés; na evangelização e no serviço da caridade. Talvez esses “bons pastores” e essas “boas pastoras” estejam mais perto de nós do que pensamos. Se achamos serem poucos, vamos somar forças. Se achamos que não dão conta, vamos ajudá-los. Quem sabe, ouçamos, nós também, a voz do Bom Pastor a nos chama para sermos como eles e elas. Ou melhores. Se for necessário enxuguemos também as suas lágrimas, para que continuem a enxugar as lágrimas de muitos outros, doando as suas vidas para que outros tenham mais vida, como o Bom Pastor.
Dom Pedro Conti

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