segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

“Ser” e um “Além”: desejo ou projeção? ¹

Clauber Rosivan Santos de Almeida ²

         “O homem é ‘capaz de Deus’: o ser humano em busca do infinito (além)”. Apotegma ontológico perturbador.
         Objetivamente, o homem é “capaz” de Deus porque tende ao seu Criador. Ele é “capaz” porque busca as razões do seu existir. Não há quem não se pergunte a origem e desfecho de sua existência. Cedo ou tarde estes questionamentos vêm à tona.
         É, justamente, no solo da existência que aflora a questão eminentemente do ser, do sentido da vida, das razões do viver. É conatural ao homem perguntar-se quem ele é. Todavia, este radical e dinâmico questionamento está profunda e autenticamente marcado por um desejo do infinito (além). Este desejo do infinito pode ser ou não coincidente com a capacidade de Deus, uma vez que nem sempre o infinito (além) é capacidade de Deus, mas antes capacidade do homem. Neste sentido poder-se-ia intuir:
         - Crer no infinito, mas sem Deus. Aqui o ser humano tece sua existência em uma crença ou numa ideia de infinito (além) sem a presença de um Deus. Isto é, ele mesmo é o infinito (além) projetado (sentido de ‘evolução’). Ele crê em um infinito (além), porém sem Deus. Este infinito constitui-se como uma transcendência-transcendida do humano. Não se encontrará em um “depois” se não o homem mesmo.
         - Crer em Deus, mas sem um infinito (além). Nesta outra perspectiva o ser humano realiza sua existência balizada numa crença em Deus, porém este Deus não é e nem está em um infinito (além). Esta ideia parece se sustentar na frustrante realidade de sua finitude. O homem ao lançar sua âncora da subjetividade no mar da objetividade, experimenta que ele é um ser entre outros seres e esta constatação o impele ao encontro de um “outro”. Aqui a consciência de sua finitude o assalta e a necessidade de um Ser que supera tamanha finitude o “envolve”: este ser é Deus. Mas este Deus não está em um infinito (além), mas aquém. Desta forma, não existe um infinito (além).
         - Crer em Deus e em um infinito (além). Nesta concepção a pessoa se coloca no acontecer da história sob a crença em um Deus que promete a ela o infinito. O infinito (além) é a sua recompensa por crer nele, pois ele mesmo vive na infinitude. Uma relação de garantias e condições. Cláusulas pertinentes. Uma relação de bilateralidade, enfim. O homem no infinito (além) encontrará um Ser que é capaz de não fazê-lo mais perecer, pois este Ser não conhece a finitude.   
         - Nem Deus, nem infinito (além). Neste ponto de vista nem Deus, nem o infinito persistem. A pessoa vive na ideia de que “fora” daqui e tampouco “dentro” daqui existe um Deus e/ou um infinito (além). Não existe um “algo mais” (além) e nem um Ser existente neste “algo mais” (além). O que só existe verdadeiramente é o homem. Tudo o que ele faz existe. Não existe um “fora” dele, nem um “dentro” dele a ser crido.
         Mas de tudo isso um dado presente nessas concepções se faz sentir: o desejo de absoluto, de totalidade, de plenitude. Estas “formas” de existências que quisemos pontuar demonstram estágios da busca de sentido que nós humanos visamos experimentar. Revelam também um ponto em aberto, todavia esta abertura não significa que somos indeterminados e sim uma postulação da unicidade da vontade de querer conhecer a realidade. Neste sentido, inesgotabilidade da realidade não constitui incognoscibilidade dela.
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¹ É para pensar. O que podemos inferir a respeito desta temática tão presente?
² Licenciado em Filosofia.

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